Passo muito tem sem escrever, e quando volto é sem dúvida, pra falar de tristeza.

Eu queria mesmo voltar ao passado. Hipócritas são aqueles que dizem que nunca se arrependeu de nada que fez, eu o desafio. Eu mesmo queria voltar, mais ou menos na época em que comecei a falar. Reformularia mais minhas frases, só diria coisas doces, não seria tão arisca como sempre fui. Usaria palavras pra conquistar amigos, amigos de infância, daqueles que eu não me recordo em tê-los. Aproveitaria todos os meus fins de semana na praia em que morava, antes que ela fosse toda destruída como agora. Não reclamaria de voltar pra casa toda salgada, e nem exigiria que minha mãe me pagasse um picolé. Eu só aproveitaria. Brincaria mais de boneca, não passaria tanto tempo em casa tentando ser a melhor em tudo e sendo tão oca por dentro. Encararia todos os meus inimigos com palavras, e não a socos e pontapés. Eu sou arisca, sempre fui.
Aproveitaria mais minha escola, entre tantas em que passei. Comeria menos doce, seria menos gorda e menos xingada. Ia preferia estudar de manhã, porque metade da minha vida estudei a tarde e perdi muito tempo com isso. Dormiria mais cedo, talvez agora eu não tivesse insônia e não precisaria tomar tantas drogas. Eu seria menos rebelde, menos mau humorada, saberia dar abraços...Sou tão amarga.
Começaria a beber mais tarde, não precisaria enfrentar tantos problemas com a bebida. Não teria transtornos alimentares, não trataria as pessoas tão mau. Deveria ter conquistado mais amores, mais amigos, mais pessoas...
Deixaria de ser tão anti-social. Encararia meus medos, meus traumas. Meus traumas me matam e eu não consigo encará-los. Por fim, teria estudado mais agora e já estaria na faculdade, sem precisar ouvir a mesma história de que “Ah, você era um gênio. Como não passou?”
Mas o que eu acho, de verdade, é que todo mundo deseja o “efeito borboleta”.